Inteligência Emocional na Infância

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As crianças, como protagonistas ativas do seu desenvolvimento, terão de aprender a lidar com os seus estados emocionais e a descodificar/ interpretar a expressividade das outras pessoas. Terá de lhes ser proporcionado um espaço e um tempo para que, em atividades como o desenho de sonhos, emoções multicoloridas, role-playing do fardo de Bracken e narrativas de contos projetivos, desenvolverem uma linguagem emocional expressiva e um léxico rico, complexo e interativo.

Compete ao educador/professor o desenvolvimento da inteligência emocional rumo à construção do equilíbrio e do sucesso na intervenção educativa. Neste sentido, necessitará de formação específica para identificar, avaliar e intervir na promoção da educação emocional da infância e, sobretudo, experienciar, em microgrupos e por autoscopia, casos práticos dilemáticos, identificação de situações de (i)literacia emocional e de situações alexotímicas.

Capacidade de perceber, avaliar e expressar emoções com precisão

Mayer e Salovey em 1990, focalizaram pela primeira vez, este processo ser inteligente em momentos emotivos:
“A capacidade de perceber, avaliar e expressar emoções com precisão; a capacidade de acessar e/ou gerar sentimentos de modo a facilitar o pensamento; a capacidade de entender as emoções e o conhecimento emocional e a capacidade de regular emoções para promover o crescimento emocional e intelectual” (Mayer, Salovey & Caruso, 1997, p.10). Explicitando melhor referem que utilização de processos relacionados à Inteligência Emocional se inicia quando uma informação carregada de afeto entra no sistema perceptual, envolvendo os seguintes componentes: a) avaliação e expressão das emoções em si e nos outros; b) regulação da emoção em si e nos outros; c) utilização da emoção para adaptação.

O modelo das quatro bases da inteligência emocional, de Cooper & Sawaf (1997), servirá de matriz reflexiva para a promoção do processo de desenvolvimento da inteligência emocional.

– Alfabetização emocional – focaliza a automotivação, o autoconhecimento e empatia no sentido do desenvolvimento do quociente emocional (QE). Tem quatro elementos de sustentação da aprendizagem: honestidade emocional; energia emocional; feedback emocional; intuição prática. Trabalho organizado.

– Competência Emocional – promove o entusiasmo ou fascínio, a capacidade de recuperação, a expansão de confiança, aprendendo a lidar com pressões e problemas de um modo mais saudável e aberto. Tem quatro elementos referenciadores: presença autêntica; raio de confiança; insatisfação construtiva e capacidade de renovação. Abre espaços para a criatividade, a adaptação, a qualidade produtiva, a eloquência, “valorização das possibilidades criativas da diversidade e do conflito humano”.

– Profundidade Emocional – promove as relações interpessoais e intrapessoais, designadamente as habilidades de compreensão, a motivação, a interação cooperativa e a capacidade do autoconhecimento.

– Alquimia Emocional – a elevação da consciência emocional e da aplicação intuitiva da inteligência emocional. Estimula o fluxo intuitivo, o deslocamento reflexivo no tempo; o sentir as oportunidades e a construção do futuro. Essas habilidades são movidas pelo envolvimento, criatividade, adaptabilidade, ampliação do campo sensorial, ambição, desejo.
A ação pedagógica responsiva e responsável, alicerçada numa educação emocional efetiva, precisa de sustentar, pela premência da tomada de decisão nas situações dolorosas, difíceis ou incómodas, um propósito de vida, comprometido com valores altitudinais, criativos e experienciais.

Os comportamentos / decisões resilientes encontram consonância sempre que sentido de vida Vencer na adversidade é possível, mas a resistência /superação ao fracasso terá de ser aprendida com o aumento da tolerância à frustração, explicitando o sentido que a situação terá para cada criança / professor. Boris Cyrulnik visualiza a resiliência como um oxímoron, em que o sujeito é cindido por um trauma, mas se reconstrói e resiste; sofre, mas tem esperança apesar de tudo. Para Cyrulnik (2001), a resiliência é um processo íntimo que se integra num processo social e pertence à família dos mecanismos de defesa.

É controlável e traz esperança, podendo ser simbolicamente considerada uma em “mola” e “tecido”. “Mola” porque, ao receber o impacto da adversidade, a pessoa sofre (de certa maneira “deforma-se”, como a mola ao receber uma força: quando a mola é presa a um peso, por exemplo, estica, mas depois volta) e depois supera o sofrimento, salta superando o fator que ameaça a pessoa. “Tecido” porque se configura no espaço entre a pessoa e seu entorno social (especialmente as pessoas significativas com quem é possível estabelecer uma relação de apego seguro), como um mosaico de pano que vai sendo tecido.

Como mola e tecido, a cada impacto, é possível buscar a superação, ou seja, “apesar do sofrimento, buscamos a maravilha” (p.194). Esta capacidade de transformar uma situação de dor em possibilidade de crescimento, ou capacidade humana para enfrentar, sobrepor-se e ser fortalecido ou transformado por experiências de adversidade (Grotberg, 2002, p.20), poderá ser uma utopia mas merece ser promovida no processo de educação para o futuro com sentido, com rumo individuador e altruísta.

Texto de: Júlio Pereira, Departamento de Educação Especial e de Psicologia da Escola Paula Frassinetti

Atualizado em 22-Jan-2018 | Partilhar:

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