Desafios ao Envelhecimento da Pessoa com Deficiência

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Na vida em sociedade, qualquer mutação ao nível económico, social, cultural e demográfico, tem impacto no Indivíduo, uma vez que este se encontra inserido em microssistemas que recebem o impacto destas mutações, face ao ambiente que o rodeia de acordo com abordagem ecossistémica de Brofenbrenner.

Ao abordarmos os desafios ao Envelhecimento da Pessoa com Deficiência, existem dois eixos de análise, que inicialmente devemos focar de forma a conceptualizar teoricamente o tema a desenvolver deste artigo, uma vez que se trata de um processo multidimensional. Neste sentido, iremos abordar o eixo de análise sobre o processo de Envelhecimento e o eixo de análise do processo de Qualidade de Vida, sendo que existe uma associação/conexão intrínseca nestas dimensões.

Partindo do primeiro eixo de análise, e no que diz respeito ao processo de envelhecimento da pessoa com deficiência, este deve-se a um conjunto de fatores e tal como acontece com a população que não tem qualquer tipo de deficiência, também esta tem aumentado. A longevidade que o ser humano alcançou é uma conquista historicamente recente. As teses que relacionam a industrialização e a urbanização, aliando à queda da mortalidade são comummente aceites pela lógica inerente. Além desta lógica, é de realçar que o conjunto de bens e serviços na área da saúde e da prática dos cuidados nas mais diversas dimensões, que a modernidade disponibilizou, catapultou a qualidade de vida dos cidadãos para patamares muito mais elevados. Desta forma, tornou-se possível viver mais anos e mais tempo com boas condições, realidade que se vai prologando atualmente. Para alguns autores, o declínio da mortalidade não tem origem apenas nas mudanças tecnológicas e políticas, mas também na alteração generalizada de mentalidades que precederam a revolução industrial. O historiador francês Philippe Ariès, defende a existência prévia da uma “revolução da morte”, segundo a qual “gerou-se uma procura social de gosto pela vida, resultante de uma mudança revolucionária de atitude face à vida e face à morte, a qual, entre outros efeitos, incentivou o desenvolvimento da medicina (Ariès, 1979 cit. por Bandeira, 1996: 76).

Por outro lado, e com base no segundo eixo de análise, nomeadamente a dimensão de Qualidade de Vida, este conceito tem sido visto como a satisfação com a vida ou bem-estar subjetivo, segundo (Crossman, 2004). São várias as definições para o conceito de qualidade de vida, visto muito abrangente e que tem sido amplamente utilizado em vários contextos: político, social, económico, filosófico e biomédico (Morales, 2005). Ao longo do tempo, várias são as definições que têm surgido. De seguida apresentaremos algumas dessas definições.

A definição de Qualidade de Vida mais aceite pela comunidade científica internacional é a que propôs Schalock, que nos diz que é um conceito que reflete as condições de vida desejadas por uma pessoa, tendo em conta oito necessidades fundamentais que representam o núcleo das dimensões da vida de cada um: bem-estar emocional, relações interpessoais, bem-estar material, desenvolvimento pessoal, bem-estar físico, autodeterminação, inclusão social e direitos (Verdugo & Schalock, 2001). Neste modelo, estão bem presentes as dimensões de participação, bem-estar e independência.

Face a este enquadramento, abordemos três desafios que se colocam ao aumento da População Idosa com Deficiência: a necessidade de criação de mais respostas sociais; a qualidade dos serviços destinados a esta área de intervenção e a sustentabilidade das Organizações face a este fenómeno social.

Com o aumento da esperança de vida e, consequentemente, com o da Qualidade de Vida das pessoas com deficiência, face a um conjunto de fatores, tais como os cuidados de saúde assentes na evolução da Medicina, a evolução da prática profissional assente na dimensão biopsicossocial, centrada na pessoa, na sua capacitação e empoderamento, – e onde devem estar sempre presentes, como objetivos, a promoção do Bem-estar, Qualidade de Vida e Participação -, urge criarem-se mais respostas que contemplem estas dimensões e práticas de intervenção, de forma a responder às necessidades que cada vez são mais prementes e diversificadas. Salienta-se que, de acordo com a projeção da Organização Mundial de Saúde (OMS), a tendência será o aumento da população idosa com deficiência.

É, pois, fundamental a criação de respostas sociais e serviços que tenham cada vez mais uma dimensão terapêutica e especializada, de forma a promover o Bem-Estar e a Qualidade de Vida. E a abordagem Terapêutica terá de ser no âmbito de uma intervenção preventiva, numa intervenção de reabilitação e numa perspetiva de manutenção das suas capacidades e promotora da autonomia, bem-estar e Qualidade de Vida.

De modo a minimizar o impacto das problemáticas que vão surgindo, com o aumento da longevidade de vida da pessoa idosa com deficiência, é necessário a criação de serviços especializados nas mais diversas áreas de intervenção, através de equipas multidisciplinares e equipas interprofissionais, tal como afirma (Kelly Allan, 2004), pois só assim será possível garantir a satisfação das necessidades, interesses e expetativas dos clientes e promover a sua Qualidade de Vida e Bem-Estar social, em que a humanização do serviço seja um elemento diferenciador na intervenção, dado ser uma mais-valia para qualquer organização e neste caso para estas pessoas que se encontram mais vulneráveis e facilmente são alvo de exclusão social.

Por fim, importa realçar um desafio que não se coloca diretamente à Pessoa Idosa com Deficiência, mas sim às Organizações Sociais, que são a mão invisível e o garante do Welfare State em Portugal.

Tendo em conta todos os prognósticos que nos alertam para o aumento da pessoa Idosa com deficiência e por consequência a necessidade de se criarem mais e melhores repostas sociais, é fundamental a criação de políticas públicas que permitam às organizações sociais garantir a sua sustentabilidade e responder de forma cabal a este aumento, quer quantitativo, como qualitativamente, através da intervenção preconizada pelos diversos profissionais e serviços, em contexto institucional ou não.

É muito importante que as Instituições possam criar respostas sociais e serviços inovadores, assentes nas perspetivas e princípios mencionados anteriormente, para responder aos desafios que são colocados na contemporaneidade, de modo a permitir um envelhecimento com respeito pela dignidade humana, que promova o Bem-estar e a Qualidade de Vida, nesta fase do Ser Humano.

Texto da autoria de: Álvaro Rebelo, Diretor do Centro de Atividades Ocupacionais (CAO) da Fundação AFID Diferença;

Atualizado em 6-Fev-2020 | Partilhar:

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