Autorrepresentação
Quando falamos em Autorrepresentação falamos na liberdade de cada pessoa em responder por si próprio segundo a capacidade que possui para fazer escolhas, emitir opiniões e tomar decisões na sua vida quotidiana em diversas situações.
Autodeterminação
A autodeterminação poderá surgir com uma constante Autorrepresentação, no entanto, não é único fator e muito menos decisor. É fulcral as pessoas procurarem desenvolver e treinar as suas características num processo dinâmico, continuo e gradual ao longo da vida de modo a estimularem as capacidades, ajustarem os limites e intensificarem as possibilidades.
O papel da família é sem sombra de dúvida um suporte extremamente vital e fundamental para que os níveis de autonomia da pessoa possam traduzir conquistas no caminho da autodeterminação à passagem e durante a vida adulta, quiçá potencia-lo para uma vida mais independente e com maior qualidade.
A Autodeterminação não depende apenas das características e competências das pessoas, depende também dos fatores ambientais da capacidade do contexto e da sociedade em acolher, aceitar e potenciar a diferença sem a perspetiva da segregação.
Fatores individuais e ambientais poderão determinar as possibilidades ou impossibilidades da pessoa em assumir comportamentos autodeterminados. Uma pessoa autodeterminada é aquela que é capaz de por si próprio estabelecer objetivos e alcançá-los numa sociedade que mesmo não sendo perfeita, tem vindo a despertar para uma consciência mais inclusiva, desenvolvendo sinergias para criar oportunidades principalmente para aqueles que se vão autorrepresentando.
Quem é que melhor do que nós responde por nós próprios?!
Qualquer indivíduo ao longo do seu processo de crescimento vai desenvolvendo capacidades cognitivas que lhe permitem decidir, escolher, tomar decisões sobre a sua própria vida. Quando falamos de pessoas com deficiência intelectual esta autorrepresentação e autodeterminação na maioria das pessoas não surge de forma natural e coerente. Mas, com isso não quer dizer que em algumas situações não se possa adquirir ao longo da sua vida. É necessário desde tenra idade trabalhar o seu autoconhecimento, a gestão emocional, as questões dos limites das regras sociais, dos direitos e dos deveres das pessoas de modo a inclui-los naturalmente e gradualmente em sociedade. A questão é que esse trabalho deverá ser feito desde a infância e não apenas quando a pessoa já é adulta! Muitas das vezes não pensamos que os filhos irão crescer e que” é de pequenino que se torce o pepino”!
Na intervenção com a pessoa com deficiência não descuramos de nenhuma das partes importantes na construção do caminho para a Inclusão, o cliente, a família, a Afid e os parceiros porque potenciam não só autorrepresentação da pessoa como a projetam para a possibilidade da sua autodeterminação.
A pessoa com deficiência deverá estar e ser sempre a centralidade de qualquer decisão da sua vida, ou seja, a pessoa tem que ser efetivamente a primeira e a mais envolvida nas decisões sobre a sua própria vida.
“É preciso colocarmo-nos no lugar do Outro”
Penso que aqui poderá estar o eterno desafio entre o que nós pensamos saber dos nossos filhos, as expetativas que temos e os ideais que projetamos para eles centrados na nossa forma de ver e sentir o mundo! Muitas vezes nós pais, opomo-nos, bloqueando ou simplesmente desvalorizando o que realmente os nossos filhos desejam, anseiam ou perspetivam, sem que esses comportamentos muitas vezes inconscientes, carregados de excesso de proteção e medos tenham a intenção de os tornar mais dependentes de nós próprios! É preciso colocarmo-nos no lugar do Outro para aferirmos com maior consciência e realidade o que muitas vezes na nossa zona de conforto não o somos capazes de fazer.
É importante escutá-los aferir as suas vontades, interesses e desejos e desconstrui-los pouco a pouco devolvendo-lhes a responsabilidade de serem os próprios a criarem e definirem estratégias para alcançarem os seus próprios objetivos.
Mas o nosso papel enquanto Afid consiste por um lado, no apoiar o cliente ouvindo-o e o orientando para desconstrução de cada etapa do processo da sua ideia, sonho, expetativa… Por outro lado, promover oportunidades e possibilidades em que os clientes possam crescer em ambiente de confiança e seguros, tornando-os autoconfiantes, responsáveis e mais conscientes da sua realidade.
Estou certa de que o caminho é o de continuar a fomentar a autorrepresentação e autodeterminação em pequenas situações do seu quotidiano, no conhecimento dos seus direitos e deveres, na responsabilização da sua alimentação, na autonomia dos transportes, nas atividades ocupacionais na comunidade, na realização dos seus sonhos…
Acredito que é permitindo e respeitando a autorrepresentação da pessoa que vamos construindo uma verdadeira inclusão. É fulcral que a pessoa se sinta confiante para determinar o que é para si qualidade de Vida e sobretudo FELICIDADE.
Texto da autoria de: Sofia Pinto, Técnica Superior de Animação Sociocultural e responsável pelo grupo de Inclusão do Centro de Atividades Ocupacionais (CAO) da Fundação AFID Diferença
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