Em 2017, as pessoas com 65 ou mais anos representavam 20,5% de toda a população residente em Portugal. Em termos comparativos, esse valor posiciona-nos no quinto país da OCDE mais envelhecido do mundo (OCDE, 2015). Este não é um problema novo, mas nos últimos anos tem ganho visibilidade com o aumento da esperança de vida: em 2015 esta atingiu os 77,4 anos para homens e 83,2 anos para as mulheres (PORDATA, 2017).
O envelhecimento e a longevidade desafiam a sociedade, os Estados, os políticos e as políticas a agirem num triplo sentido: pensar como viver numa sociedade de adultos e adultos muito idosos; integrar todas as idades numa sociedade “altamente” discriminatória face à idade; e criar sistemas de proteção social e de saúde sustentáveis.
As perguntas que podemos fazer são: como agir face aos riscos sociais clássicos? (velhice, desemprego, doença, invalidez), e face aos novos riscos associados às transformações sociais, económicas e de longevidade (novos arranjos familiares, crise e austeridade, necessidade de cuidados de curto e de longo termo, escassez de cuidadores informais e formais, mudanças ambientais e catástrofes naturais decorrentes da ação do homem?) (cf. Pereirinha, 2016).
Porque viver mais tempo, significa estar exposto a riscos sociais, no último ano assistimos à discussão de algumas propostas de política social para fazer face a estas questões. A primeira foi a criação de uma Estratégia Nacional Para o Envelhecimento Ativo e Saudável 2017-2025 (República de Portugal, 2017). Este documento define os seguintes objetivos: sensibilizar para a importância do envelhecimento ativo e da solidariedade entre gerações e promover a mudança de atitudes em relação ao envelhecimento e às pessoas idosas; promover a cooperação e a intersetorialidade na concretização da Estratégia Nacional para o Envelhecimento Ativo e Saudável; contribuir para o desenvolvimento de políticas que melhorem a qualidade de vida das pessoas idosas.
Para atingir estes objetivos o plano (República de Portugal, 2017: 20) define quatro eixos estratégicos centrados em várias áreas:
Estas áreas são consubstanciadas por um conjunto de medidas operativas específicas e articuladas entre si (cf. República de Portugal, 2017).
A segunda proposta decorre da declaração de Lisboa sobre o envelhecimento e foi adotada pelos estados membros da UE e das nações unidas na 4.ª Conferência Ministerial, realizada em Lisboa com o tema: “Uma sociedade sustentável para todas as idades: cumprindo o potencial de viver mais tempo” (Declaração de Lisboa, 2017). Esta declaração enuncia algumas prioridades para promover o envelhecimento ativo e sustentável para todas as idades até 2022. Estas prioridades passam por: i) Reconhecer o potencial da pessoa idosa; ii) encorajar o envelhecimento ativo, iii) garantir um envelhecimento com dignidade.
Para as consubstanciar, foi assumido que o envelhecimento será o tema transversal na implementação da Agenda 2030 para Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Estas prioridades cruzam-se com os objetivos do milénio no que diz respeito à promoção da saúde, da educação, do emprego, da igualdade de género e à erradicação da pobreza e inclusão no desenvolvimento urbano. Qualquer política ou intervenção nesta área requer um quadro de referência mais alargado centrado numa lógica de ciclo de vida intergeracional, dos direitos humanos e da justiça social.
A terceira proposta refere-se às recomendações da Assembleia da República para envelhecer com direitos (República portuguesa, 2018), onde são efetuadas as seguintes propostas: criação de equipas multidisciplinares com vista ao acompanhamento e intervenção social de proximidade junto das pessoas idosas em situação de pobreza, exclusão e isolamento; organização e calendarização em articulação com organizações de defesa dos direitos dos pensionistas e reformadas medidas que permitam alcançar os seguintes objetivos:
Quaisquer que sejam as estratégias, é importante destacar que Portugal apesar de conviver com os problemas dos países desenvolvidos apresenta défices ao nível do rendimento e da sua justa distribuição (maior desigualdade do que os países da União europeia) (Pereirinha, 2016) o que vai interferir na operacionalização das políticas.
Como argumenta o autor (Pereirinha, 2016) para conceber e operacionalizar políticas a este nível é essencial ter uma visão de ciclo de vida e ter em conta: o perfil produtivo da economia portuguesa e os fatores que determinam a repartição primária do rendimento bem como o sistema educativo e de formação de competências profissionais e a sua relação com os salários; o tipo de sistema de proteção social nomeadamente a formação de pensões, salários, carreiras e a capacidade de prevenir os novos riscos (longevidade, pobreza, doenças e incapacidades, cuidados e cuidadores) sobretudo os que aumentam a vulnerabilidade e o empobrecimento da sociedade, sob pena de as mesmas não saírem do papel.
É essencial: entender a dimensão destes novos riscos (antecipar preventivamente sobre as causas dos problemas); definir a dimensão do investimento social (traduzida na melhoria do capital humano); e investir em serviços e não só de transferências monetárias. Tendo em conta as características do estado social português (relativamente à sua capacidade económica) que é fundamental que o mesmo continue a desenvolver formas de governo tradicionais que mantenham os direitos e a dignidade das pessoas idosas (Pereirinha, 2016), e digo eu integrar formas inovadoras de governação, fundadas na governança. A governança significa a colaboração das instâncias estatais, com uma panóplia de atores, públicos privados e voluntários que operam em diversos níveis de decisão em multiníveis e multidireções (Fitzpatrick, 2011). Este tipo de governação exige processos e parcerias (sociedade/Estado) com capacidade de coordenação e de administração para lidar com esta complexidade. Será decerto este tipo de direção que pode promover uma sociedade mais solidária e mais justa, e um envelhecimento digno e ativo para todas as pessoas.
Texto da autoria de: Maria Irene Carvalho, Professora Associada, ISCSP, Universidade de Lisboa, Doutora, Mestre e Licenciada em Serviço Social.
Referências
Fitzpatrick, T. (2011). Welfare Theory, an introduction to the theoretical debates in social policy. Basingstoke: Palgrave, capítulo 5, State, power and poverty. pp- 86-98.
ONU (2015). World Population Prospects: the 2015 revision, Key Findings and advance tables, ONU: Genève.
ONU e EU (2017) Declaração de Lisboa sobre o envelhecimento, 4ª conferência ministerial da EU e da ONU: Lisboa.
Pereirinha, J.A. (2016). Pobreza e novos riscos sociais em Portugal: uma análise da despesa social. In Albuquerque, C. & Luz, H.A. (coord.). Políticas Sociais em tempos de crise – perspetivas, tendências e questões críticas. Lisboa:Pactor, pp. 127-143.
PORDATA (2017).População. Lisboa: Pordata.
República de Portugal (2017) Estratégia Nacional Para o Envelhecimento Ativo e Saudável 2017-2025 Proposta do Grupo de Trabalho Interministerial (Despacho n.º12427/2016), consultado em https://www.sns.gov.pt/wp-content/uploads/2017/07/ENEAS.pdf
República de Portugal (2018). Recomenda ao Governo medidas para a promoção do envelhecimento com direitos. Resolução da Assembleia da república, nº 88, publicada no DR, 1ª série, nº 66, de 4 de abril
A Marca Entidade Empregadora Inclusiva destina-se a promover o reconhecimento e distinção pública de práticas de gestão abertas e inclusivas, desenvolvidas por entidades empregadoras, relativamente às pessoas com deficiência e incapacidade e, a Fundação AFID Diferença foi uma das entidades reconhecidas pela Marca em 2025.
O reconhecimento e distinção enquanto Marca Entidade Empregadora Inclusiva 2025 é ...
É com muita alegria e satisfação, que anunciamos o lançamento da edição número 28 da Revista Diferença. Assim como nas edições anteriores, a revista continua a dedicar-se à área social como uma voz da Fundação AFID Diferença e, este ano, decidimos focar a revista num tema bastante relevante: Envelhecimento Ativo.
Convidámos não só os nossos especialistas ...
No passado dia 9 de maio, a Formação Profissional promoveu o seu Dia Aberto, uma iniciativa dedicada à demonstração das diferentes áreas formativas. O objetivo foi proporcionar aos parceiros e demais interessados a oportunidade de conhecer de perto o trabalho realizado por formadores e formandos.
A manhã foi marcada por uma partilha muito enriquecedora e produtiva, ...
🎨 Inauguração do Prémio de Artes Plásticas Dr. João Gomes Esteves 🎉
Hoje teve lugar a inauguração da 1ª edição (2024/25) deste prémio, que celebra a criatividade de autores com deficiência intelectual nas áreas de Pintura e Cerâmica.
Contámos com a presença da nossa AFIDRitmo que nos encantou com os seus batuques, do vogal da Junta de ...
📢 Campanha Solidária da Consignação de 1% do IRS
A solidariedade é o ato de estarmos juntos no apoio a uma causa ou objetivos comuns.
Estamos todos interligados e as nossas ações fazem a diferença!
✔ Com a Campanha Solidária de consignação do IRS, pode direcionar 1% do imposto retido que ficaria para o Estado;
✔ Ao contribuir com ...
A Conferência “Desinstitucionalização de Pessoas com Deficiência” foi um momento de reflexão essencial. O evento teve início com as intervenções da Dr.ª Cristina Casalinho (Fundação Calouste Gulbenkian), da Dr.ª Sónia Esperto (INR), da Dr.ª Sandra Marcelino (Instituto da Segurança Social), do Dr. Murteira Nabo (Fundação AFID Diferença) e a da Dr.ª Susana Nogueira (Vereadora da ...
É com enorme entusiasmo que apresentamos o nosso calendário para 2025: “Lugares que contam histórias: Amadora em 12 passos”!